quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A certeza absoluta.




A certeza absoluta.

“Homem não chora nem por dor, nem por amor”. As terminologias do poeta me fazem perceber as vulnerabilidades irrenunciáveis de um coração que se rende aos encantos de um amor qualquer. Você pode querer ignorá-lo, buscar defeitos no modo dele ser e agir com a esperança vã de que isso te traga conforto, mostrando o erro da escolha que seu coração fez, sem sequer perguntar se teus freios e contrapesos estavam de acordo. Ultrajando, quase que religiosamente, qualquer chance de reflexão ou análise mais objetiva, o coração não faz inferências, não conhece a lógica, não ver o aparente; ele é contra o óbvio e escolhe os caminhos mais impensáveis, pra fazer sofrer é você.

Finalmente, como grana na mão do pródigo, tudo é quase nada, quando feito para suplantar sentimentos que são evidentes como o mito do homem na lua; são os tons hipnóticos dos olhos, vibrações da voz doce, perfume que se grava na mente, a boca pequena e rosada, os grandes cílios penteados, e os mais leves imperceptíveis traços, todas essas coisas se tornam vitais e comuns no estado letárgico da paixão. É chegado o fim de toda sua autonomia, um grande laço lhe rouba as escolhas, só se tem a vontade de viver dentro do outro, já não há o vácuo ilimitado da mente para pensar em sí mesmo.

Não adianta negar, quiséramos ter a capacidade de admoestar os sentimentos, de modo a subjugá-los aos nossos próprios objetivos, mas a realidade é que sentimentos pertencem a uma classe de manifestações concretas e perfeitamente admitidas, que fogem totalmente à pequena parcela de domínios dos seres humanos. Homem vem crescendo e ampliando a sua esfera de controle, o espaço bidimensional, tridimensionalizou-se com a exploração dos corpos celestes e o profundo dos mares, mas até hoje nem sequer um passo deu-se na direção do coração.

Tudo parece ser contrário ao que está a sentir, a família, as preferências, as afinidades, sonhos, intelectos, gestos, idade, capacidade, credos, hábitos, ambições, comidas, músicas e temperamento, mas em detrimento de todos esses sinais objetivos, que pareciam ser o bastante para odiar aquela pessoa e fazer correr qualquer hum, você simplesmente se apaixona e não consegue compreender como aquela pessoa que aparentemente é tudo o que sempre evitou, hoje tornou-se quem faz delirar o teu corpo aquecendo-o como um tocha, e põe em cárcere todas suas vontades e desejos, pois o que te move desde a percepção dessa emoção, é a vontade estar ao lado e nos braços daquele que seu coração escolheu para ser seu, mas nem sempre este te escolheu também, e assim arrisca-se muito, gosta de quem não gosta da gente, e um alto preço é pago por essa insistente tolice.

Há porém, evento arrasador, que aborrece a alma do sonhador, e trás à análise esse aspecto devastador que o título torna irrefutável; é vilão ordinário e marginal, contudo, presente e incurável, eu mesmo e até você já deve ter provado de seus cálices ferventes. Todas as reações e implicações amorosas são belas e vivificantes para o ser, até o momento em que a impossibilidade da efetivação cruza o caminho do apaixonado. Uns conhecem como 'fora', outros líricos chamam de 'toco', há quem diga 'tirada', os gramáticos 'incorrenspondência', e cada pessoa tem uma definição pessoal da desilusão, e prefiro chamar de 'palhaçada Adilson'!

Adilson é a representação mitológica do absurdo, o impensável, o socialmente incorreto, o biologicamente morto, o fim que não se conhece de perto, o erro que ninguém admite, é o fato impróprio no lugar errado, a piada sem graça, não entendida, contada novamente...

É flexa aguda, queimante, que aprofunda no peito; a perdição é a conseqüência do foco único, onde todos os caminhos só levavam à obstinada paixão. Uma última lembrança revolve as ilusões que vão ficando para trás, e toda maciez das pétalas que antes massageavam os pensamentos de bons momentos, se convertem numa árdua caminhada vaga, fria e solitária; das pétalas juntadas, a melhor percepção só mostrou os espinhos escolhidos.

Queria ter o remédio que colocasse fim ao começo de toda essa dor. Muitos viveriam sem várias marcas, talvez até caminhassem mais rápido em busca de uma nova paixão, e quem sabe de numa nova desilusão; não sei se traria bons resultados, ou se contribuiria para um presságio cada vez pior; mas até mesmo os médicos morrem por falta de prevenção. Talvez eu tenha razão. Sei que ainda que todas a tendências resultassem na grande prova da ineficácia do 'anti-dor-de-corno', ele seria muito famoso e recorrido, ainda que desse remota chance de eficácia, mas as células-tronco embrionárias nada fizeram até hoje para provar validade de seu alvoroço; assim o remédio contra desilusão seria moda, e talvez última tentativa de distrair quem só pensa naquele, que o coração não quer despedir.

domingo, 12 de outubro de 2008

Sentença de Um Juiz Marginal

Segue a sentença de um juiz que escolheu ser maginal, quando por uma decisão resolveu não aquiescer ao curso comum das ideologias jurídicas, quando muitas vezes esse curso não manifesta a melhor razão para ser e, prover o devido objetivo que deve ser pautado toda construção jurídica; não pode a manisfestação do Direito ficar distante da intelecção humanística e moral. Deve todo arcabouço jurídico orientar-se pelo zelo e proteção aos direitos humanos, melhor e pragmatizado no conceito de dignidade humana, princípio demazido exaltado na CF/88, mas essa instrução diretiva, as vezes é recharçada diante da insensatez de muitos que se propõem à construção do 'Justo', sem contudo observarem as virtudes que são atinentes à essa conquista . leia-se o Artigo, que trás parte de uma sentença que põe materialidade na manifestação tão nobre que se denomina "justiça":

"Edna, uma pobre mulher, estava presa há 8 meses, prestes a dar à luz, porque fora apanhada portanto alguns gramas de maconha. Dei um despacho fulminante, carregado de emoção e da ira santa que a injustiça provoca. Talvez a transcrição ajude a responder as indagações que colocamos no início deste artigo.
Eis, pois, o despacho:
“A acusada é multiplicadamente marginalizada: por ser mulher, numa sociedade machista; por ser pobre, cujo latifúndio são os sete palmos de terra dos versos imortais do poeta; por ser prostituta, desconsiderada pelos homens mas amada por um Nazareno que certa vez passou por este mundo; por não ter saúde; por estar grávida, santificada pelo feto que tem dentro de si, mulher diante da qual este Juiz deveria se ajoelhar, numa homenagem à maternidade, porém que, na nossa estrutura social, em vez de estar recebendo cuidados pré-natais, espera pelo filho na cadeia.
É uma dupla liberdade a que concedo neste despacho: liberdade para Edna e liberdade para o filho de Edna que, se do ventre da mãe puder ouvir o som da palavra humana, sinta o calor e o amor da palavra que lhe dirijo, para que venha a este mundo tão injusto com forças para lutar, sofrer e sobreviver.
Quando tanta gente foge da maternidade; quando milhares de brasileiras, mesmo jovens e sem discernimento, são esterilizadas; quando se deve afirmar ao Mundo que os seres têm direito à vida, que é preciso distribuir melhor os bens da Terra e não reduzir os comensais; quando, por motivo de conforto ou até mesmo por motivos fúteis, mulheres se privam de gerar, Edna engrandece hoje este Fórum, com o feto que traz dentro de si.
Este Juiz renegaria todo o seu credo, rasgaria todos os seus princípios, trairia a memória de sua Mãe, se permitisse sair Edna deste Fórum sob prisão.
Saia livre, saia abençoada por Deus, saia com seu filho, traga seu filho à luz, que cada choro de uma criança que nasce é a esperança de um mundo novo, mais fraterno, mais puro, algum dia cristão.
Expeça-se incontinenti o alvará de soltura”.
Edna encontrou um companheiro e com ele constituiu família. Mudou inteiramente o rumo de sua vida. A criança, se fosse homem, teria o nome do juiz, conforme declarou na audiência. Mas nasceu-lhe uma menina que se chamou Elke, em homenagem a Elke Maravilha.
Onde estará Edna com sua filha?
Distante que esteja, eu a homenageio. Pela tarde em que a libertei, por essa simples tarde, valeu a pena ter sido juiz.



Leia "Escritos de um jurista Marginal" de João B. Herkenhoff

"Se escrevo o que sinto é porque escrever me faz diminuir a febre de sentir"

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