quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Amada



Ela me fez bem desde a primeira vez que a vi; tentava abrir aquela garrafa pet de refrigerante barato e não se importava com a incapacidade de suas forças, mas ria-se do desconcerto do refrí que parecia inacessível. Era mais uma típica situação em que a simplicidade da moça se estampava, e comumente era reconhecida pela nobreza e pureza de seu coração. Tentei me aproximar naquela primeira oportunidade, fiquei hipnotizado, meus olhos fitaram-na e a luz simples e intensa que dela emanou clareou todos os meus pensamentos, foi como um grande astro, causou-me ofuscamento inverso à penumbra que viví até o momento que a vi.

Minha tentativa se frustrou quando um oportunista com ar de arrogância descabia, tomou sem nem mesmo pedir, abrindo a garrafa que se punha à moça; ela educada, tenra, acautelou - muito obrigada. Era o mesmo homem que sentava todos os dias ao lado dela, talvez com a ambição inócua de uma oportunidade ter com os beijos e reconhecimento da donzela, mas podia-se ver a despercepção dele. Nem sequer era notado.

Desde então procurei uma chance que me colocasse novamente ao perímetro de alcance a menina que contagiava meus sonhos e já roubava meus pensamentos. Parecia uma enfermidade repentina, eu não a conhecia a pouco e desde então senti como se ela fosse parte da minha história muito antes dos meus pensamentos se equalizarem com os sonhos nela.

Eu não cria ver beleza impar que permeava o clarão dos seus traços, moça robusta de contornos marcantes e olhos claros, curvas sinuosas, deixavam atordoadas a todos da turma, cabelos claros cacheados, como aqueles de comerciais que prescindem de qualquer chapa ou tratamento especifico, boca fina, delicada e pincelada, lábios rosados, umedecidos, sorriso carismático, era uma mulher de presença e deixava quaisquer ambientes atentos aos seus movimentos, roubando a cena em todas suas manifestações. Então entendi porque me detive com tanto zelo, era ela que eu sempre esperei conhecer...

Mas dias brotavam, nasceram felizes, algum tempo já se passava, e aos pouco fui me aproximando e ganhando o prestígio que necessitava para dar um passo a mais. Não podia incorrer no embaraço da ambição imediata, não podia arriscar perder tudo pela minha ansiedade de tê-la ao lado, não cabia correr e como desastrado esbarrar nos meus deslizes. Cauteloso, natural, sensível, verdadeiro, desprendido, sincero, deixei que eu fosse visto e valorado em minhas qualidades, permiti mostrar quem era e o que queria. No ar pairou a verdade inescusável, pois não havia admissões dos meus sentimentos por ela, mas já estava sedimentado que os meus desejos suplantavam o simples querer ser "amigo".

Não tive dúvida quando se apresentou claro o consentimento com minha paixão tácita, ela também gostava de mim. Uma sensação boa que incendiava meu coração dominou-me, estávamos a sós e tudo se ajustou; percebi que não pensava só quando pensava nela, a felicidade era correspondida pela união intocável de nossos desígnios; arriscaria tudo para ganhar aquela sensação outra vez. Não cabia protelar mais o que estava patente entre nós ,enamorados, que até então satisfazíamos nossos sonhos secretos no mundo das idéias, pois nada de concreto tínhamos vivido.

Com um movimento rápido e irresistível segurei-a levemente pelo pescoço, trazendo com delicadeza seus lábios ao encontro dos meus, beijei-a, "bis in idem", o mundo e tudo parecia parar contemplando o ato mais belo que nasce quando pessoas assim se autocompletam com a união dos lábios calados que são capazes de dizer coisas que o verbo não traduz. Não é importante o futuro, como para cada dia basta seu mau, quero parar nesse quando a beijei, pois nada foi capaz de roubar minhas atenções desde então, senão o gosto da boca suave que parece não ter fim e ecoar até agora, buscando reencontrar o brilho que nascerá novamente com o toque dos lábios que se buscam e querem estar juntos. Sem reservas, se viver é ser feliz, isso é o que me fez ter vida...

By BrunoMaximos

domingo, 23 de novembro de 2008

Esquecido no descaso e conforto.


Você partiu, nem disse adeus, e eu me sentí só.
Porque as pessoas crescem, mudam, outras
regridem, ou simplesmente nos deixam? Mas cada
uma tem seu jeito de se despedir sem nenhuma
palavra. As coisas parecem sofrer uma abrupta
transformação, e em um momento tudo que parecia
perfeito e sob controle, simplesmente se desfaz;
o vento sopra e faz barulho, mas ele não é
forte, é somente a contemplação que estás
sozinho e até mesmo o que parecia imperceptível
ocupa um espaço, no que agora é um enorme vazio.

As pessoas simplemente escolhem mudar, muitas
vezes nem pensam que estão fazendo assim, mas
involuntariamente escolhem. Depois tudo é
diferente, já não há a mesma cumplicidade e
interação, não se cabem mais os abraços
apertados e duradouros, já não se fala com
elogios e olhos no olhar, é perdida a
intimidade.

Sempre tem uma hora que a distanciação gera uma
reflexão, a minha é agora, mas normalmente
olha-se ao lado e vê quem antes andava tão junto
de você, separado não só pelas cadeiras da sala,
bancos da igreja ou saídas incomuns, mas o que
gera essa jornada que agora os separa não
resume-se nos aspectos físicos dos domicílios em
cidades apartadas, mas o descaso do coração que
não é voluntário, pois não se pensa em "vou
esquecer ele", mas o que apaga as lembranças é o
pensamento onde "ele já não é importante para
mim".

Hoje me sinto esquecido, esse esquecimento não
possui destinatário de número determinado,
talvez não haja "um alguém" definido, mas sinto
como se já não fosse tão importante para várias
pessoas, e com isso aprendo que não devo me
queixar de tal circunstância, pois eu mesmo
posso ter cooperado para não ser lembrado, mas
preciso observar que há pessoas importantes que
merecem cuidado, e quero estar atento para que
eles não esperimentem o martírio acautelado do
meu desprendido esquecimento.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Dúvida inquisitória



Alta é a pena que sente a minha alma por este estatus quo, que não indígno, mas inquietador, pois não vejo satisfação possível em um caminho que não me trás segurança e realização.

Perco tempo; cri ser esta a saída da carência e necessidade, mas me sentí desolado pela realidade que se mostrou dura e voraz, dissipando os sonhos da fartura e suprimento imediato.

As escolhas nos dizem quem somos, e se mostram como responsáveis por tudo que vivemos e seremos; se há orgulho ou vexame, não importa, a escolha é fria e indiferente, só te dá a certeza que foi ela quem determinou quem és, e continuará dizendo.

Não há efeito retroativo, nem se pode alterar o que foi dito ou feito; se faço ou deixo de fazer, arrependido estarei, ou uma enorme covardia me invadirá pelo que deixei de fazer por medo de arriscar.

Mas tenho a responsabilidade para determinar se conviverei com o sentimento de dúvida, que as vezes sinto por desistir sem saber o que será, ou optar pelo imprevisto, correndo a chance ver as conseqüências das minhas obras, que talvez marquem minha vida para sempre.

BrunoMaximos

"Se escrevo o que sinto é porque escrever me faz diminuir a febre de sentir"

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