quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Paixão de Oficio.

Era só mais uma tarde vazia, o céu estava vibrante e ensolarado, as nuvens eram ralas pouco opacas e intangíveis, tudo seguia o curso irrelevante dos dias cotidianos em brasília. Estava muito quente, os meus olhos se esquivavam franzindo-se contra a luz intensa que cobria a indiferença e o egoísmo alheios.

Mas tudo mudou quando ela cruzou-me no corredor do cartório; foi como se uma enorme luz tomasse conta do ambiente público, e nesse momento não mais o céu me trazia desconforto, pois o azul anil admirado por muitos, já não mais irradiava como a beleza ofuscante da menina loura que aguardava o reconhecimento de suas firmas.

O cartório antes triste e insípido, de cores mortas e aspecto rústico de desleixo, fez-se como novo em tons berrantes de alegria com sinos carnavalescos, uma graça envolvia a menina de cabelos claros, de tal forma que todo o ambiente se contagiava com sua singularidade.

Eu estive parado, imune às interrogações de meus amigos que me acompanhavam; nada mais parecia ser importante naquele momento, e meus olhos detinham-se na moça de dentes brilhantes que se familiarizava como as dependências desordenadas do 4°oficio. Ela perguntava para uns e outros os atos necessários para o procedimento de sua cartulária; com gestos simples e educados se informou e permaneceu, em certo tom de ansiedade, aguardando o número de sua senha que parecia jamais se aproximar.

Era como um sol, o brilho lhe era inerente, e trouxera de maneira sublime uma razão para o meu dia que transcorria ordinariamente, como todo o resto da semana, mais naquela tarde de sexta após o almoço, o comum cedeu espaço à beleza ardente da menina que encantava simplesmente por ser.

Seus olhos dóceis destilavam simpatia em cores claras; sua anca era perfeita e nem os mais hábeis artistas seriam capazes de desenhá-la; ela tinha cabelos longos e louros que deveriam estar em comerciais de xampu, seu quadril largo com encaixe maestral em uma cintura fina consternavam as imaginações dos homens, ao conjunto de seu corpo insinuante com busto simétrico e farto; ela era simples, mas marcante, usava jeans e blusa branca, contudo a formalidade não lhe privava de um suspiro sequer. Usava um crachá envolto em um cordão azul que circulava o pescoço, o nome grafado em sua identificação não me foi acessível, ainda que a empresa Embratel fosse o merchandising mais evidente no cordão da moça.

Poucas vezes eu tive a impressão de estar próximo a um anjo, e ela era a mulher que os rapazes esperam para se casar, aquela que o namorado não a deixa nem mesmo quando ele vai estudar em outro país, liga todas as noites para certifica-se que tudo continua sobre o seu controle; ela era perfeita para reprodução de uma prole aperfeiçoada; no ritual do acasalamento, era a fêmea cobiçada por todo o grupo que se digladiam até a morte, para ter a esperança de momentos maritais com a donzela.

Poucos momentos eu a pude fitar, o lapso temporal em que estive mais próximo dela não passou de poucos minutos eternos, e tudo que eu posso lembrar é a formosura exagerada que havia em cada um de seus contornos. Nunca soube o nome dela, e quando estive perto de perguntar um medo paralisou-me, não pude fazer nada além deixar que o meu corpo desfrutasse os tempos que me restavam para ver o sonho e ficção que pareciam revestir a existência daquela menina. Creio que era Carol, Ana Carolina, assim como a primeira que eu amei, quando ainda estava nas séries iniciais da minha educação básica, e informe se mantinha latente da minha estrutura psicossocial. Ana Carolina sim, creio que há grande possibilidade de ser, pois existe uma magia que não posso explicar em torno desse nome, algo que atrai somente titulares com beleza incomum e aparência fumegante, a herdar um nome tão belo como muitas que o possuem.

A fila andou, e a senha da moça foi chamada, tudo em suas ações tinham toques de beleza e ternura; ela apressou-se e já não estava tão ansiosa; prosseguiu no desfecho de suas atividades na tarde insolente; estive em todo tempo no mesmo lugar desde quando à percebi, e no corredor do cartório ela passou novamente por mim, seus cabelos são as últimas imagens que eu vi quando ela cruzou a porta para o estacionamento; inda me lembro do perfume que eles exalaram quando por mim passou e fez brotar a imaginação platônica do poeta que até hoje espera reencontrá-la.

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