sábado, 23 de agosto de 2008

Solidão: o escudo social da vergonha

Por que uma tristeza nos abate assim repentinamente, uma corrosão é agravada por essa necessidade de ter preenchido o vácuo que existe em medidas intricadas daquilo que denominamos como "o nós". A sensação se aprofunda pela inócua capacidade de saber qual a verdadeira razão que impõe a dor que atordoa e te faz sentir-se só, no meio da uma multidão. É uma saudade cinzenta que cruza nosso paradeiro, o azul da incerteza se impregna no raso da vida, pois quem nunca deitou sem que em alguns minutos só o teto fosse a única coisa presente na insônia implicante; a verdade é dita em vozes caladas da solidão que cruza o a dimensão triste do quarto, e faz soar um grito silencioso entre a noite calma, silenciosa e voraz.

Todos estão ocupados, e não se prestam a interação e convívio clamados pela vida social, as maquiagens estão mais forte e intensas nos rostos das meninas, pouco a pouca a verdadeira cara das pessoas se perdem atrás de figuras criadas pela imaginação hostil de uma sociedade individualista, de consumo inconsciente e oprimida.

Você se torna produção da reação das pessoas pela suas atitudes, a tua liberdade não é mais disciplinada pela capacidade pessoal de descobrimento, mas os limites da tua expressão são ditados pelos paradigmas sociais que se fartam de escárnio e ignorância.

A felicidade não é mais um bem maior pelo qual se desenvolve a vida e os anseios coletivos, esse princípio constitucional é aos poucos substituído pela fachada dos casamentos arrumados e oportunistas, pelo namorado chato e feio de BMW, pelo velho rabugento e rico, pelo amigo burro e ridículo que mora na beira do lado, pela colega vazia e superficial filha da pirua socialite. Hoje não se vive uma grande paixão, um amor para recordar; vive-se a fugacidade dos beijos roubados nos shows do Babado Novo, e até calcinha preta.

O amor é coisa ultrapassada, o sexo tem preenchido a ausência de afeto e sentimento que antes unia os casais, hoje nem mais casais existem, as pessoas não sabem os seus nomes, os encontros não seguem mais as nomenclaturas da conquista e cortejo, tudo é muito rápido e insensível, dura só um orgasmo e nem vale mais um cigarro. O viagra, a ciência, o conhecimento e o avanço tecnológico devolveram alguns prazeres, mas dispensaram a conquista e satisfação que se tem ao depor obstáculos, barreiras e dificuldades; hoje quase tudo tem um preço pecuniário, aferível financeiramente, você diz que não, mas se vende ao apelo estético de parecer com a modelo magra e sem graça.

O homem educado e sensível é gay, o filósofo é louco, a moça não é mais de família, a castidade é uma piada, o medo uma evidência, o consumo um escape, deus um mito, o direito positivo, a religião legalista, instituições preconceituosas, governo hipócrita, o bandido herói, o banqueiro inocente, há um descrédito pessoal e coletivo, todos gritam por justiça, mas são incapazes de perdoar a falha inconsciente de seu companheiro, todos alardeiam um desejo grande em honestidade e punição ao crime, mas somos nós que pedimos para o amigo bater a ponto, passamos a cola de matemática, furamos a fila do metrô, dirigimos pelo acostamento e depois aceitamos o suborno do policial corrupto, porque afinal de contas as multas são muita caras para serem pagas.

Nossos lideres e dirigentes não são menos que a expressão autoritária e implacável do "jeitinho brasileiro" e do "você sabe com quem está falando?"

Mas será por que eu ainda me encontro triste e sozinho? E por que não sou minoria, mas tenho uma demanda exponencial que se alia aos meus desígnios tristes? Talvez seja porque a multidão apesar de aquiescer ao erro, o reconhece em suas demasiadas e inequívocas expressões, e diante de tanta confusão de valores e transtornos psicóticos, o confinamento é a melhor escolha para quem se acostumou ao cheiro de erro, e não sabe como coexistir de maneira amistosa, sem que a base inconstante da armadilha social se manifeste e explicite o caos e vergonha moral.

Você se pergunta por que te abateu essa tristeza, você pensa que é o único a sentir-se só depois do clarão das multidões e shows barulhentos; o barulho cala o grito por mudança e transformação que a vida intersubjetiva clama ao seu socorro, e a solidão afasta as pessoas que se envergonham reciprocamente por serem pequenas partes de uma estrutura podre, amantes de sí mesmos e sem afeição. Sem honra, sem amor, sem respeito, sem liberdades, sem moral, sem ética, alternativa a falência dos princípios pessoais, está na superficialidade das relações, assim você não precisa saber da vida nojenta e suja que tem aquele que você beijou na noite passada e nunca mais voltará a ver, mas a solidão vai sempre te lembrar...

BrunoMaximos 23.08.08n 20:24

Um comentário:

Saulo Madrigal disse...

Dileto e conspurcado Maximos:

Acompanho teu trabalho e noto progressos
formidáveis..Sem sombra de dúvidas és um exímio "escrevedor". Apenas cuidado com as gralhas elas enfeiam teus pensamentos escritos e os torna sem cor e sem cheiro!!!

"Se escrevo o que sinto é porque escrever me faz diminuir a febre de sentir"

Seja Bem vindo, aqui é um espaço para a manifestação dos sentimentos, indignações e pensamentos em geral. Os textos não seguem um gênero literal único, há uma diversidade de conteúdo, então fique a vontade e não esqueça de tecer seu comentário, ele é muito importante para o nosso aperfeiçoamento!

Envie seu texto, que publicaremos aqui! corretorcarvalho@hotmail.com